quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Felicidade de Luto....


Ainda não tinha feito o luto....

...Ontem regressei á casa onde vivi os últimos anos da minha ainda curta e intensa vida.

Não estava lá ninguém, o silêncio que eu tanto ansiei conhecer naquele lugar e que nunca foi possível obter, encontrei-o ontem numa casa vazia de vida, de pessoas, de barulho e tragédias...no entanto, as paredes, os cheiros e os objectos que ainda teimam em ficar por lá, esses estão repletos de memórias, de acontecimentos e histórias para e por contar.

A casa já não tem portas, para trás vão ficar os armários de infância, os parapeitos das janelas onde escrevi e jurei amor eterno ao Paulo, para trás também, fica parte de uma história antiga...

Ontem, ao olhar as paredes do meu antigo quarto, de rosa, pensei em quantas vezes me deitei naquele lugar desejando que a vida tivesse os mesmos matizes suaves e doces e, o meu coração rebentou diante da sensação de ter assistido á implosão de uma família...

Não vai ficar pedra sobre pedra naquele lugar, não sobra nada, e até os corações dos que ali viveram, choraram e viveram tantas histórias, endureceram ainda mais do que as próprias pedras da calçada...´

Sinto que tentei em vão construir algo; um lar, uma família, mas foi tudo sobre a mais movediça das areias. Hoje sinto-me tola por ter tentado durante tanto tempo; sinto-me tola porque neguei a realidade, neguei a minha intuição e hoje nada é, hoje nada existe.

Roubei o meu álbum de infância, quando ainda éramos só nós....antes de chegarem os outros e antes de deixarmos de nos amarmos como família, para começar apenas a viver para o outro e para os outros....

Osho revela que:

" Uma pessoa feliz é tão feliz que quer ficar só para ser feliz. Quer preservar a sua privacidade. Quer ouvir as flores, a poesia, a música...uma pessoa feliz pertence a si própria. porque há-de pertencer a alguma organização? Esse é o caminho de alguém infeliz: pertencer a alguma organização, pertencer a uma multidão."

E ontem, enquanto lamentei as raízes que as minhas árvores criaram naquele solo e que agora serão arrancadas sem dó, nem piedade...choro as raízes que criei naquele lugar de profunda ansiedade, perda, um lugar onde se fala de paz e onde na realidade apenas existe a guerra. Sendo assim, agora vou esquecer o mundo, a sociedade e as utopias de Karl Marx...vou arrancar tudo isso de dentro de mim, vou viver para mim e quando um dia eu constituir família, o círculo será completamente sagrado e, muitos poucos terão acesso gratuito a essa micro - atmosfera!

Agora vou desfrutar a vida, deliciar-me, procurar ser feliz no meu amor próprio, na minha liberdade e na minha solidão!

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