sábado, 14 de maio de 2016

Bullying - a minha história

Hoje em dia todos falam em bullying, as crianças mais pequenas sabem o que isso é e o que significa, pelo menos a grande maioria.

Nos anos 90, ninguém sabia o que isso era, não se falava nisso e era ignorado no mundo dos adultos ao qual eu pertencia.

Quando foi o primeiro dia de aulas na escola preparatória do Feijó em Almada, aquilo foi um marco para mim, por isso quis levar uma roupa especial. Mas a roupa que eu levei, não agradou aos meus colegas e nem nenhuma outra nos dias e anos por vir.

Raro era a semana em que não era de alguma forma vítima de bullying, seja por comentários ou tratamento, mas também maus tratos físicos. Entre eles, contam as bofetadas, puxar os cabelos, arrastada pelos colegas na estrada de alcatrão até rasgar as roupas, dentadas, murros e quando entrava na sala ou saía da aula de ginástica, ter os colegas todos em fila para me darem bofetadas no pescoço. Foram 5 anos disto e olhando para trás, não sei como sofri tudo aquilo, maioria sozinha, nunca falei nada a ninguém e nunca fiz amigos.

Acho que por ter sido ensinada a dar o outro lado da face como Jesus, eu o fazia, literalmente. E levava tanto abuso físico e emocional que era para mim um calvário e uma cruz todos os dias ir para a escola.

Até que um dia percebi, que até Jesus pegou num chicote para colocar as coisas em ordem. Não tinha quem me defendesse ou estivesse atento a isso. A minha mãe ficou alarmada quando um dia cheguei com o rosto cheio de marcas de dentadas, os olhos negros em casa. A criatura que fez aquilo foi expulsa depois de minha mãe ter intervido, mas nada melhorou, eram vários os colegas. Até que um dia, vinha o Nuno para me presentear com mais uma bofetada que fazia a cabeça girar, a turma fez um círculo para aplaudir, mas desta vez foi diferente. Lá vinha ele, na minha direção com aquele sorriso provocador e a olhar a turma incentivando todos á zombaria, eu esperei e isto apesar de ter para onde correr. O Nuno veio a passos largos e quando estava já próximo o suficiente, levou um pontapé no lugar mais sensível que ele possuía. Caiu por terra e com ele, o orgulho e a vaidade que tinha, a turma em silêncio, enquanto ele grunhava de dor, todo encolhido.

Tive medo que meu castigo fosse ser pior, mas senti uma força para o fazer que me transcendeu por completo. Não pensei nas consequências.

No final da aula, nunca senti tanto medo e terror, saí do edifício e lá estava a turma toda agrupada e eu esperando passar pelo corredor da morte outra vez.

Mas foi diferente, eu passei sim pelo corredor, mas apenas para o ver se abrir em silêncio diante de mim. Ninguém levantou a mão para me bater ou o pé para eu tropeçar e cair. Fiquei surpresa e pasma, daquele dia em diante nunca mais sofri nada.

Era temida. E que bem que soube.

Nunca mais deixei na vida que usassem de poder sobre mim ou tirassem vantagem, não sou uma pessoa agressiva, sou atenta, conheço meus direitos e sei onde quero chegar, luto por isto e resmungo para ser tratada como tal, em qualquer lugar.

O bullying me tornou mais forte, resiliente, mas podia ter sido o contrário. Sofri anos e anos quando poderia ter sido só por uns dias até me encaixar.

Por favor, estejam atentos como pais, profissionais, colegas ou amigos, existem crianças, jovens e adultos que não sabem defender-se. Pessoas bonitas que foram silenciadas pelos maus-tratos, o silêncio forçado e a dor. Estas pessoas, guardam tudo para si, em geral são sensíveis e não querem falar mal de ninguém, perdoam fácil e querem o bem de todos e se esquecem de si. E um dia desistem dos estudos, do trabalho, do casamento e em último de si mesmos e entregam ao desânimo, e outros colocam fim á vida.

Existe bullying no namoro, no casamento e é de uma violência silenciosa e arrebatadora que ninguém dá conta. Está lá entre quatro paredes, naquela ameaça escondida, no deitar o outro abaixo na sua dignidade e auto-estima até que um dia sobra apenas o pó. Conheço tantos casos assim, em que o amor tem um arco e flecha para atingir o outro um mais dói.

Se estás a viver isto, levanta do teu lugar e, faz o outro entender que não é teu dono e senhor, atinge-o com o conhecimento que tens de ti mesmo. Finge até ser verdade que agora és uma pessoa segura e não aceitas mais desacatos, finge até todos acreditarem, mesmo que estejas a tremer por dentro.

Que ninguém te diminua, seja colega, patrão, marido, ninguém! Assume as rédeas da tua vida, usa a tua dor como força contrária para te ensinar a voar e voa. Porque no fim só um vai viver para contar a história, quem vai ser? Tu ou ele ?

A escolha é tua....


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