sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Alice no País das Maravilhas - Violência Doméstica


Quando era criança, tanto eu, como minha irmã gostávamos muito de assistir a Alice no País das Maravilhas e como crianças era dos nossos desenhos animados favoritos, no entanto não tínhamos qualquer filtro que separasse a realidade da ficção. Éramos muito pequeninas, mas talvez em nós já existisse o desejo da fugir da nossa realidade e entrar num mundo diferente. 





A Alice chegava ao mundo das maravilhas por saltar para dentro de um espelho mágico e nós pequeninas. um dia pensámos que esse espelho existia em nossa casa e começámos a fazer as nossas tentativas de chegar ao país das maravilhas. Várias vezes por semana, talvez quando a realidade era mais crítica e oprimia nossos pequeninos seres, queríamos fugir, talvez inconscientemente, e íamos para a frente do espelho e saltar e tentar experimentar de repente abrir os olhos e estar numa realidade mais colorida, cheia de vida, longe de medos. 





Nunca chegámos ao país das maravilhas, nunca fomos a Alice, talvez o segredo fosse esse, se ao menos tivéssemos nascido Alices de outra família, mas éramos apenas a Neusa e a Irina e a nossa realidade era aquela, apenas aquela. 





A Neusa sempre sofreu mais que eu no seu crescimento, olhando para trás vejo que do lado materno existiam claras preferências e diferença de tratamentos. A Neusa era reacionária, talvez por ser mais parecida em natureza com a mãe, o conflito fosse maior, eu era calada e quieta, ouvia, obedecia e calava. 





A Neusa morreu há 3 anos atrás e a data aproxima-se, de uma infância infeliz, ela rumou para um desastre maior, um casamento triste e absurdo com detalhes muito infelizes de violência doméstica e abusos psicológicos e emocionais. Tentou abrigo no seio materno e nunca o achou....a vida não foi boa com ela e descansou, descansou das tentativas de ser feliz, de tentar saltar através de um espelho e experimentar outras realidades, o mundo fechou-se para ela e foi mau com ela. 





Em breve vou fazer uma homenagem a ela, porque ela foi muito amada por mim e lembro sempre a última vez que conversámos ao telefone.





Que triste ela nunca ter percebido que o verdadeiro espelho estava dentro dela, a verdade estava dentro dela, não precisava que ninguém dissesse o valor que tinha ou a beleza que me encantava e a outros, pena que os espelhos onde procurou por aprovação e amor, sempre mentiram e disseram coisas que destruíram sua fantasia, desejo, sonho de ser feliz. 





Um dia irei reencontrar a minha irmã, sou teimosa e tenho fé e aí será num país real de muitas maravilhas, sem a necessidade de espelhos ou ficção, a realidade do amor, da fé e da verdade vai encher nossos corações e dar uma nova vida.





Espero que outras mulheres e homens, que sofram num país sem maravilhas, nas suas vidas, casamentos ou famílias tenham a coragem de se libertar, falar, buscar ajuda e apoio, antes que seja tarde demais. Parem de tentar sair da vossa realidade através da ficção que ele/ela algum dia vai mudar e sim ainda podem ser felizes apesar dos abusos. A realidade é a realidade, encarem os vossos medos e entrem num mundo novo mais pacífico onde a vossa felicidade depende apenas de vocês mesmos e de mais ninguém. O vosso porto seguro, pode chegar numa conversa com um amigo, uma denúncia, um colocar um ponto final nesse círculo de tristeza, lágrimas e abusos. Sejam fortes e saltem desse mundo para uma realidade melhor. A vida não é colorida como nos desenhos animados, mas podemos ser felizes, basta arriscar e ser feliz.


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