domingo, 3 de outubro de 2010

É Noite e está Frio....

É noite e está frio...cá dentro sente-se o calor de uma manta quente, envolta num corpo e alma aquecidos por uma amizade sem igual a outra.
Se eu fosse uma princesa poderia acreditar que estou a viver um sonho; um verdadeiro e surreal conto de encantar.
Nesta viagem que começou com o desconhecido há dois anos, chegámos agora a bom porto, um lugar de compreensão, onde pudemos tranquilamente deixar cair a pesada âncora, que trazíamos nesta embarcação que atravessou mares turbulentos em busca de novos mundos e realidades. A muralha do nosso castelo; do príncipe e da princesa, é resistente e forte para enfrentar possíveis ataques alheios de adversários astutos, que não entendem nada sobre a verdadeira amizade e, apenas querem julgar quais os limites entre o bem e o mal; esquecendo sempre que o bem e o amor de uma amizade real nunca vai encontrar sinónimos nas suas mentes cheias de preconceitos e limitadas pelos falsos romances que têm vivido. Tudo é puro, quando alguém se dispõe a carregar os fardos do outro, a escutar e procurar ser UM com o outro. Acredito que isto que estou a viver não está ao alcance de todos, apenas daqueles que estão dispostos a amar sem buscar os seus próprios interesses, sem ciúme ou a soberba e luxúria da vida. A intensidade desta relação está nos laços fortes que a prendem á alma. A luxúria não existe e, porque ambos sabemos que isso apenas iria destruir como numa guerra civil, os guerreiros que tanto têm lutado para que este castelo no alto da montanha de todos os relacionamentos humanos, não seja invadido por estranhos sentimentos, suspeitas ruins ou as ondas fortes e instáveis de sentimentos infantis e de carácter puramente biológico. Há dois anos atrás eu decidi que não queria mais viver, desisti de mim, dos outros e estava demasiado perturbada para desejar continuar a lutar por o que quer que fosse. Desisti numa noite, que o sol eventualmente, poderia voltar a nascer umas manhãs depois de todos os meus sonhos terem sido desfeitos. Sonhos desfeitos enquanto criança por um pai ausente e uma mãe sempre demasiado agarrada ao controlo e, que tentava constantemente imprimir no meu coração os sonhos que ela nunca tinha conseguido realizar e poupar-me das frustrações que só ela conhecia. Nessa altura, atirei-me para o precipício do desconhecido nos braços de um conhecido, num falso amor que só queria me arruinar e, assim foi.
Desisti de voltar a sonhar com o céu azul. Desci ao abismo da tristeza. Porém, a vida tentou segurar-me, apertou-me a mão e tentou alcançar o meu frágil e derrotado coração para que eu não desse o salto final e tudo terminasse ali. Mas eu gritei para que ela me largasse e deixasse mergulhar naquele abismo mortal e frio. Lutei contra a vida e tentei abraçar a morte e começar a descansar, repousar num lugar pacífico e silencioso, onde não mais iria sentir nada....nunca mais! Eu só desejava a paz que o fim da vida me poderia oferecer, porque apesar de segurar minhas mãos, nunca soube onde ficava o meu coração e tinha de o agarrar, através de um grito surdo que calaria todos os meus medos.
Eu precisava de ser salva da vida, um jeito de desaparecer imaginando que o pai do céu poderia limpar tudo, enquanto eu dormia aquele sono, acreditava eu, que era possível experimentar o que era esse reino divino, limpinho e com cheirinho a alecrim. Mas o pai do céu não saiu de perto da cama de hospital, onde estive internada sem sinais de actividade cerebral, depois de o meu coração ter paralisado, após anos e anos de quedas dolorosas em todos os planos que a maldita vida tinha para oferecer....tinha medo, pânico e angústia de voltar a lutar. Os que cá ficaram de forma corajosa, a maioria desses cobardes, mais uma vez limitaram-se apenas a julgar, esquecendo propositadamente que me tinham conduzido àquele estado de pura loucura. Esses ditos, santos e religiosos tinham-me levado a pecar e agora eu estava procurando regressar do pó da terra, devido às pedras que me tinham arrojado ao longo de toda a existência.
Por qualquer razão, para mim até hoje desconhecida, resolvi naquele estado de coma onde o nevoeiro encobria o sol, tentar agarrar alguns daqueles raios e do seu reconfortante calor. Despertei e eis que a realidade não era a mesma, a vida tinha deixado de ser autista e indiferente, o pai que eu sempre amei contra todas as probabilidades, declarava agora em mimos, abraços e beijos o quanto me amava e a minha alma ficou lavada por aquelas lágrimas de saudades que ele, derramava numa voz embargada pela emoção e a súplica do perdão. Eu também supliquei perdão e voltei a viver, sendo que nunca vou esquecer o mal que me fizeram, mas também sei que isso não me vai fazer desistir de mim, novamente e do bem que sempre tenho de procurar realizar na vida dos outros. Quando acordei daquela viagem ao desconhecido mundo e frio do Hades, vi que aquele raio de sol que eu procurei agarrar estava no olhar e sorriso desta amizade que hoje vivo, com o homem dos meus sonhos. É o homem dos meus sonhos e eu sei que nunca vai ser o homem da minha realidade real, mas esta amizade é um céu onde não tenho medo de voar. E, se a realidade é apenas isto...não quero voltar a sonhar com nada, nem com ninguém, prefiro o abraço e calor que sinto cá dentro, do que como algumas vezes senti o oposto de ter apenas o corpo aquecido e a alma despida, gelada e tremendo com aquilo que poderia vir a acontecer, após novos abandonos. Não me volto a abandonar, tenho agora conhecido a importância do amor próprio e eis que já consigo distinguir as cores do céu azul e esvoaçar pela vida sem medo. Obrigada meu precioso e dilecto amigo, nesta noite chuvosa quero te dizer que tu és o maior milagre da minha vida, nunca pensei vir a conhecer um amor como este e finalmente tenho a certeza que o presente é apenas um presságio de um ainda melhor futuro, este é o romance mais lindo e puro que algum dia vivi e nunca poderei amar mais do que isto. Só Deus poderia criar um amor assim a partir do nada, és o meu anjo.
É noite e está frio...cá dentro sente-se o calor de uma manta quente, envolta num corpo e alma aquecidos por uma amizade sem igual a outra.

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