Tapioca - Uma História Invulgar de Imigração

Como um tesouro escondido e obscurecido,vou continuar a relatar um pouco da minha experiência de vida aqui no Brasil. 

Quando aqui cheguei carregava nas mãos uma mala cheia de conceitos erróneos sobre esta cultura, expectativas contraditórias sobre a verdadeira riqueza que iria ganhar ao arriscar permanecer aqui, um medo profundo e absurdo de que tudo em mim e em nós falhasse com o tempo. E, tudo com alguma legitimidade, pois sentia-me pressionada pelas minha emoções, a saudade, o amor pelo R., mas também pelo conhecimento das dificuldades que haveria de encontrar e, por isso senti-me compelida a questionar as minhas decisões. Deveria eu aceitar a realidade e permanecer em Portugal?

Era aqui o cruzamento de vida entre uma princesa que teimava em acreditar em contos de fada e a realidade de que tudo poderia não passar de uma grande ilusão de vida.

Estava habituada ao familiar, ao seu gosto que não decepciona e nem surpreende, porque a ele estava acostumada, mas testar esta nova experiência poderia ter o sabor de mel na boca e depois amargar no estômago. E a minha paranoia só aumentou. Sofri desnecessariamente. Foi uma tempestade num mar de pensamentos críticos, vozes contraditórias e por pouco as sombras não ocuparam para sempre o lugar cativo do sol, o meu sol - o R.
Enfim, todos os castelos teriam sido destruídos em leves grãos de areia levados pelas águas do oceano que nos separava. Reconheço que deveria ter mantido o silêncio, a calma e seguido em frente, sem olhar para trás. 

Mas aqui cheguei, trouxe excesso de bagagem, roupas, sapatos, enfim imaginem qualquer coisa, tudo o que cabia nas 5 enormes malas de avião trouxe.

Disseram-me que não seria feliz aqui, porque a media anuncia uma realidade grotesca nos noticiários  mas felizmente a minha realidade tem sido totalmente diferente do que esperava encontrar, a única coisa que me atormenta ainda, são os medos que desnecessariamente me foram colocados e que ainda não consegui combater na totalidade.

Posso garantir que a experiência, o aprendizado têm sido os melhores da minha vida, e sei que se voltar a carregar a minha mala de viagens para mais algum lugar distante neste mundo, vou levá-la do meu Brasil cheia de sabores gostosos, texturas e cores diferentes. As pessoas aqui são calorosas, super alegres e  isto apesar das dificuldades elevadas a muitos graus de sofrimento. No entanto, não se perdem em lamentações, e existem sempre motivos bons para se reunir a família e os amigos num churrasco cheio de gargalhadas e boa disposição, apesar do desemprego, da doença, dos problemas familiares. É muito bonito observar como as famílias são unidas, procuram e preocupam-se uns com os outros e se for preciso tirar a camisa pelo outro, eles não hesitam. 

Posso dizer, que compensou o esforço, vencer o medo e arriscar permanecer. Quem quiser viajar para o Brasil, venha preparado para uma realidade totalmente diferente, vai doer a distância, mas compensar no clima, nas pessoas, nas comidinhas diferentes - tapioca - uma delas que adoro, no aprendizado e nas frutas tropicais. Posso não ter acumulado riquezas monetárias e bens imóveis, porque aí não investi, não era esse o meu primeiro foco, mas sou a pessoa mais afortunada do mundo por ter esta nova família, pelo que cresci enquanto pessoa e pela pessoa amada que tenho ao meu lado. 

Se antes de vir perguntava: 

 -O que vai ser de mim e da minha vida, ao viajar e viver no Brasil?

Hoje, a questão seria outra completamente diferente:

- O que seria de mim, se nunca tivesse passado por aqui?

Sou feliz e agora que sou mais rica na alma e no coração, posso sair tranquila, fazer as malas e ir em busca de outros tesouros, porque acordar a cada manhã neste lugar foi para mim como degustar caviar, um requinte que a vida me deu para saborear. Compensou estar aqui, nem que fosse só para provar uma Tapioca de Côco e leite condensado, teria compensado tudo e infinitamente mais.